Desde a incrível recuperação da Seleção Brasileira nas Eliminatórias, Marco Polo del Nero já havia avisado Tite. O dirigente em 2017 sonhava com mais dez anos de poder. Queria ficar comandando o futebol brasileiro até 2027, depois que modificou os estatudos da CBF. Pretendia outro mandato em 2019 e buscar a reeleição em 2023.
E seguir com Tite, pelo menos, até a Copa de 2022. Ficaria sossegado por cinco anos, em relação à Seleção Brasileira. Tite, seu empresário Gilmar Veloz e o coordenador Edu Gaspar, adoraram o que ouviram de Del Nero. Só que, com o julgamento do hoje presidiário José Maria Marin, a Fifa decidiu banir Del Nero do futebol, pelas acusações do FBI, do Departamento de Justiça Norte-Americano, do falecido empresário Jota Hawilla e do próprio Marin. Marco Polo recebera propina, de acordo com as evidências.
Tite se cala diante da situação, diz que é algo particular de Del Nero. E seu dever é treinar, preparar a Seleção. Como o trabalho do técnico segue muito firme e competente, Rogério Caboclo, eleito novo presidente da CBF, já o avisou que o quer até a Copa do Mundo do Catar.
E o treinador já deixou claro que deseja seguir comandando a Seleção. Ele já disse várias vezes que o ideal para qualquer treinador que comande o Brasil no Mundial é passar por um ciclo de quatro anos. Até para ser mais justo, ser mais honesto com os atletas, fazer todos os testes que considerar necessário nos dois primeiros anos. E nos seguintes, quando começarem as Eliminatórias, ter o time ideal.
Só que Tite acredita que neste período tão grande há a possibilidade de montar a equipe mais forte possível para a Copa como também tratar de prepara a renovação. Cuidar da safra que será responsável, por exemplo, para o Mundial de 2026.
Essas palavras soaram como música nos ouvidos de Caboclo que, por coincidência, costuma tomar as mesmas atitudes que Marco Polo desejava.
Se Tite desejasse, a renovação seria feita antes mesmo de a Copa do Mundo da Rússia começar. Só que ele é esperto. O treinador tem a certeza de que se o Brasil fracassar, não teria condições para seguir seu trabalho. Seria um desgaste impossível de superar. Como ‘fracasso’ se entenda uma eliminação na fase de grupos, nas oitavas ou mesmo nas quartas.
Internamente, Tite e Edu Gaspar acreditam que uma campanha digna é levar a Seleção pelo menos até a semifinal do Mundial. Mas nem sob tortura os dois se posicionarão abertamente sobre o que pensam. Sabem que no Brasil, antes de qualquer Copa do Mundo, só se aceita técnico e coordenador falando sobre a certeza da conquista do título. Mesmo que ela não exista.
Esse um ano e onze meses à frente da Seleção mudou a visão que o treinador tinha do cargo. Ele compartilhava a opinião de Mano Menezes. Acreditava ser importantíssimo treinar o Brasil para abrir as portas para clubes do Exterior. Este era o desejo de Menezes na Copa de 2014, no projeto traçado com o empresário Carlos Leite. Sair da Seleção para uma equipe importante do Velho Continente. Mas tudo acabou sabotado com o fracasso na Olimpíada de Londres, em 2012.
Tite mudou seu pensamento. Se viu respeitado, conhecido no mundo todo. E com um salário mensal de R$ 1,2 milhão, de acordo com a TV holandesa Zoomin. Aos 57 anos, ele pode muito bem ficar até o Mundial de 2022 e aí sim, procurar um clube europeu.
Além disso, há um item fundamental para qualquer treinador comandar a Seleção. A aceitação plena de Neymar. A opinião e a dedicação do principal jogador do país ao técnico é algo vital. E isso, o ex comandante corintiano tem de sobra. A relação de confiança do atacante do PSG é total. Com nenhum treinador do Brasil ele teve tamanha comunhão.
A renovação de contrato com a CBF é mais do que bem-vinda para Tite.
Mas está condicionada, amarrada com o desempenho do Brasil na Copa.
Ele sabe muito bem o que sofreu Telê Santana em 1986.
O falecido técnico mineiro foi o único a dirigir o Brasil em duas Copas do Mundo, vindo de derrota. Com Zagallo foi mais fácil trabalhar em 1974, porque havia vencido em 1970. Telê, não. Havia caído com sua fabulosa Seleção no Mundial da Espanha. Chegou até a ser ridicularizado por programas humorísticos em 1986.
De forma discreta, Edu Gaspar já trabalha como se a Comissão Técnica fosse ser mantida. Ele acumula relatórios de jovens jogadores do mundo todo, com potencial para estarem na Copa do Catar em 2022. Com observações ‘in loco’, detalhes de personalidade, histórico médico. Algo inédito na história da CBF.
Além do mais, para tranquilidade do próprio Tite, ele sabe que jogadores fundamentais para o Brasil poderão disputar o Mundial do Catar, sem problemas. Têm idade para isso. A começar por Neymar, Gabriel Jesus, Casemiro, Willian, Marquinhos, Alisson, Philippe Coutinho, Roberto Firmino, Douglas Costa, Ederson, Fred, Danilo. Marcelo tem 30 anos. Paulinho, 29. Podem chegar também à Copa de 2022.
Há Vinicius Júnior, Artur, Rodrygo, Lucas Paquetá e vários outros jovens surgindo até no cenário nacional.
Fora tudo isso, o atua técnico desfruta de enorme aceitação pela opinião pública. Seu trabalho sério e postura firme, destacando a honestidade, se colocando contra a corrupção dos políticos e impunidade dos criminosos valem manchetes não só no país, como no Exterior.
Ou seja, o cenário é muito animador para a continuidade de Tite.
Sua permanência já estaria garantida, se quissesse.
Mas ele foi firme com Caboclo.
Sua resposta só após a Copa do Mundo.
A ideia é clara.
Se a campanha não levar o time até pelo menos a semifinal, não fica.
E o Brasil já terá treinador para 2022…
R7
