A banda de pagode baiano Escandurras subiu ao trio elétrico na noite deste sábado (3), com quase uma hora de atraso, no Circuito Jozão, durante a segunda noite do Coité Folia 2025. Prevista para começar às 22h, a apresentação teve início somente às 22h50, gerando certa apreensão entre os foliões que enfrentavam a ameaça de chuva.
Apesar do contratempo, o vocalista Felipe Escandurras não apenas pediu desculpas ao público como também prometeu compensar o atraso de forma inédita. “A gente vai dar duas voltas na avenida”, anunciou, arrancando aplausos dos foliões e animando os que permaneceram firmes no circuito. Caso a promessa seja cumprida, será a primeira vez que uma banda percorre o trajeto completo duas vezes durante o evento.
Uma volta no circuito — que compreende a saída do Largo do Mercado, passagem em frente aos camarotes e retorno ao ponto de partida — leva em média duas horas, tempo que corresponde ao contrato padrão de show. A segunda volta representaria um bônus para o público e reforçaria o compromisso da banda com o evento.

Embora tenha se apresentado no Coité Folia 2024, Escandurras não teve grande repercussão na ocasião. Este ano, no entanto, a banda retorna em um momento mais promissor, impulsionada pelo crescimento do pagode baiano e pela presença cada vez mais frequente de suas músicas em playlists e rádios do estado.
Conhecida por unir o pagode tradicional com elementos contemporâneos do pop e da música eletrônica, a Escandurras foi fundada por Felipe Escandurras, que também é compositor de sucessos gravados por artistas como Léo Santana, Ivete Sangalo e Harmonia do Samba. Com uma performance energética e letras que falam sobre romance, diversão e cotidiano, o grupo tem conquistado espaço no cenário musical baiano, especialmente entre o público jovem.
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Com ou sem segunda volta, a expectativa é de que a apresentação ajude a levantar o astral da noite, marcada até então por instabilidade climática e atrasos. A seguir, o grupo Psirico deve fechar a programação da noite com seu repertório consagrado no pagode nacional.
Circuito Jozão: nome oficial desde 2008, mas invisível na comunicação do Coité Folia
Desde 2008, o percurso oficial do Coité Folia carrega um nome que homenageia uma das figuras mais entusiastas da festa: José Carneiro da Silva, carinhosamente conhecido como Jozão. A lei municipal que batiza o circuito com seu nome foi sancionada pelo então prefeito Éwerton Rios d’Araújo Filho, o popular Vertinho, a partir de um projeto apresentado pelo ex-vereador Roque Moto Táxi. No entanto, 17 anos depois, a homenagem segue praticamente desconhecida pela maioria dos foliões e ignorada pela organização do evento.

A polêmica em torno do “esquecimento” institucional do nome oficial ressurge a cada edição do Coité Folia. Embora conste legalmente como “Circuito Jozão”, é raro — para não dizer inexistente — encontrar esse título citado em materiais promocionais, cartazes, spots de rádio, gigles, entrevistas com artistas ou falas de autoridades. Em sua maioria, os comunicados se referem genericamente ao “circuito” ou usam termos como “avenida” ou “trajeto oficial”, sem mencionar o nome que homenageia um dos pioneiros da cultura momesca local.
Jozão, que teve atuação marcante nas décadas de 1960, 70 e início dos anos 80, era conhecido como um grande incentivador do Micareme, Micareta de rua em Conceição do Coité. Figura popular, ele contratava trios eletricos com recursos proprios quando a festa ainda era marcada por desfiles simples, irreverência e forte participação popular. Seu entusiasmo ajudou a manter viva a tradição ‘carnavalesca do município’ fora de epoca.
A não valorização oficial de sua memória gera questionamentos de moradores, historiadores locais e figuras políticas. Para muitos, a ausência do nome “Circuito Jozão” nas peças de divulgação revela uma falha de reconhecimento da história da própria festa. “É como apagar parte da identidade do Coité Folia”.
O Calila Notícias também não tinha conhecimento do nome oficial do circuito e, por ter sido informado de maneira extraoficial, passou a se referir a ele como Circuito Daudeth Santana — outra figura igualmente merecedora de tamanha homenagem. Daudeth foi animador de trio elétrico, depois tornou-se cantor, gravou disco com uma das músicas selecionadas para uma coletânea que ganhou repercussão nacional com o hit “Mexa Mexa”. Ele ainda protagonizou a façanha de organizar uma micareta em São Paulo com a estrutura do carnaval de Salvador: o MicaSampa.
O ex-vereador Betão Gordiano entrou em contato com a redação para informar que Daudeth também foi homenageado por meio de um projeto de lei de sua autoria, aprovado pela Câmara Municipal, instituindo o Troféu Daudeth Santana — a ser entregue anualmente aos artistas destaques em uma solenidade no Dia dos Músicos. No entanto, segundo Betão, a iniciativa embora tivesse acontecido alguns anos, também não teve continuidade.