Na noite do último domingo, 22, um grave acidente ocorrido na BR 110 nas imediações do povoado Caritá, entre Jeremoabo e Antas, escancarou uma realidade brutal que ainda é pouco discutida fora dos meios especializados: a enorme desvantagem estrutural de veículos de pequeno porte em colisões contra modelos de grande porte. O caso envolveu uma caminhonete Ford F-350 e um Fiat Uno Vivace, ambos transportando cinco pessoas. O saldo, infelizmente, foi trágico.
No Fiat Uno, três ocupantes morreram ainda no local da colisão. Os outros dois foram socorridos em estado gravíssimo. Já na caminhonete F-350, pertencente ao ex-prefeito de Coronel João Sá, Carlinhos Sobral — que retornava de Araci após o sepultamento do ex-candidato Zelito Maia — ninguém sofreu ferimentos graves. Além de Sobral, estavam no veículo o ex-vice-prefeito de Pedro Alexandre, Lázaro Abraão, seu motorista e outras duas pessoas ainda não identificadas.
Especialistas em segurança veicular apontam que, embora todos os automóveis em circulação sejam obrigados a atender requisitos mínimos de proteção, o desnível entre veículos leves e pesados em colisões frontais é determinante para o resultado das vítimas. E foi exatamente o que se viu nesse acidente.
“A Ford F-350 é uma caminhonete robusta, com peso superior a 3,5 toneladas, estrutura elevada e grande capacidade de absorção de impacto”, explica o engenheiro automotivo Luís Fernando Menezes. “Já o Fiat Uno, um hatch compacto com menos de 1 tonelada, tem estrutura mais leve e menos recursos para dissipar a energia de uma colisão dessa magnitude.”

Além da diferença de massa e resistência dos materiais, outros fatores agravam a desigualdade: a altura dos veículos, por exemplo. Em colisões frontais, veículos maiores tendem a atingir a parte mais frágil dos carros menores — muitas vezes acima da linha de absorção de impacto. Isso pode inutilizar completamente os sistemas de proteção, como airbags e zonas de deformação programada.
Outro ponto relevante é o nível de tecnologia embarcada. Enquanto caminhonetes como a F-350 são frequentemente equipadas com sistemas avançados de segurança — como múltiplos airbags, controles eletrônicos de estabilidade e frenagem, sensores e assistentes de colisão —, veículos populares como o Uno, sobretudo os fabricados há mais de cinco anos, contam apenas com os itens básicos obrigatórios por lei.
“O resultado é uma assimetria brutal na proteção dos ocupantes. Não é exagero dizer que, em colisões desse tipo, o veículo menor quase sempre paga o preço mais alto”, complementa o especialista.
O acidente reacende a discussão sobre segurança viária e escolhas de mobilidade, especialmente em regiões onde estradas de pista simples predominam e a presença de veículos pesados é constante. Para famílias que dependem de carros compactos, muitas vezes como única opção de transporte, a realidade é dura — e, como o caso de domingo mostrou, pode ser fatal.
Enquanto se aguarda a conclusão dos laudos periciais e o esclarecimento completo das circunstâncias do acidente, o episódio já serve como alerta: na estrada, nem todos os veículos oferecem o mesmo grau de proteção. E, infelizmente, quando os desníveis se encontram em alta velocidade, as consequências tendem a ser profundamente desiguais.