Uma reportagem do site Correio sobre o crescimento da migração de baianos para Santa Catarina publicada no último sábado (23) recebeu uma onda de comentários xenofóbicos no YouTube e nas redes sociais. Diversos internautas publicaram mensagens de ódio contra pessoas que se mudaram para o estado sulista em busca de melhores oportunidades.
De acordo com a reportagem, o número de migrantes da Bahia para o estado sulista cresceu 276% na década, impulsionado pela busca por melhores salários e novas oportunidades de emprego. Entre 2010 e 2024, a quantidade de baianos vivendo em Santa Catarina passou de 15 mil para 58 mil. Nesse período, a Bahia registrou a maior perda populacional por migração do país. Mais de 3 milhões de baianos vivem fora do estado.
“Vão enfeiurar o estado mais bonito do Brasil”, diz um dos comentários no YouTube. “Coitados dos catarinenses .. São Paulo passou por isso e não foi nada bom”, comenta outra pessoa no Instagram. “Coitado do povo de SC. O que vai ter de vizinho barulhento, sujeira na praia, arrocha no volume no talo, sujeira, boteco clandestino, camelô…”, escreve outra
Para o cientista social George Hora, mestre em Estudos Étnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia (Ufba), esses tipos de comentários nascem de uma sensação de impunidade gerada pelo distanciamento das redes sociais. “Esses indivíduos acreditam ser um direito deles estar atrás de uma tela de um smartphone destilando discurso de ódio e que estão fora do alcance da lei, que não serão punidos pelo que dizem ou pelo que publicam”, explica.
Vale lembrar que xenofobia é equiparada ao crime de racismo no Brasil e pode gerar pena de um a três anos de reclusão e multa, que pode ser aumentada caso o crime de discriminação ou preconceito com base em região, estado ou país, seja cometido por meios de comunicação, como redes sociais ou publicações na internet.
“É como se nós, nordestinos e os nortistas, quando migramos, estivessemos muito exclusivamente buscando usufruir das benesses que supostamente eles têm oferecido. O que não é colocado na conta é que esse povo está indo para lá para trabalhar, produzir riqueza e às vezes se submeter a uma série de coisas que são bastante complicadas”, complementa George.
Os principais fatores que influenciam a migração estão ligados à busca por melhores condições de habitação, custo de vida, arborização, mobilidade urbana e segurança pública que contribuem para uma melhor qualidade de vida, de acordo com Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia.