Na manhã desta segunda-feira (10), aconteceu no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), uma Sessão Especial marcada por emoção, reconhecimento e compromisso com a educação do campo, em celebração aos 50 anos da Pedagogia da Alternância. A iniciativa foi proposta pela deputada estadual Fátima Nunes (PT), primeira vice-presidente da Casa, grande defensora da agricultura familiar e da educação voltada para o desenvolvimento rural sustentável.
Em seu discurso, Fátima Nunes enfatizou a importância de celebrar essa trajetória construída com esforço, resistência e amor à terra. “A Pedagogia da Alternância é uma semente plantada há 50 anos que segue florescendo com força e esperança. Ela representa o direito à educação contextualizada, que respeita os saberes do campo e forma cidadãos comprometidos com o desenvolvimento das suas comunidades”, declarou.
A sessão foi um marco de celebração, memória e esperança, reafirmando o papel transformador da Pedagogia da Alternância na formação de sujeitos críticos, comprometidos com o desenvolvimento rural e com a construção de um futuro mais solidário e inclusivo para a Bahia. Entre os presentes, estavam Crispim Ribeiro, diretor-presidente da Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (Refaisa); José Nivaldo, presidente da Associação das Escolas das Comunidades e Famílias Agrícolas da Bahia (AECOFABA) e Thierry Burghgrave, um dos iniciadores das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) na Bahia desde a década de 1970, cuja trajetória foi lembrada como símbolo de dedicação e pioneirismo.
Educadores, estudantes, representantes das Casas Familiares Rurais (CFRs), escolas agrícolas e entidades ligadas à agricultura familiar, vivenciaram as comemorações dos 50 anos. O evento reuniu também lideranças de movimentos sociais, gestores públicos e instituições que têm contribuído, ao longo das últimas décadas, para o fortalecimento da pedagogia nas comunidades rurais.

Milhares de estudantes já foram contemplados com a educação do campo. Atualmente, cinco mil estudantes estão sendo atendidos pelas Escolas Agrícolas que sustenta a educação do campo. Como parte da comemoração de meio século, apresentações ocorreram no plenário, entre elas uma mística, com mostra de produtos e elementos que representam a agricultura familiar, a exemplo de sementes para o plantio, enxada, frutas, legumes, chapéu. Tudo que compõe a forma de exercer as atividades e resultado do trabalho no campo.
A secretária de Educação da Bahia (SEC), Rowenna Brito, que no evento representou o governador Jerônimo Rodrigues, grande defensor da pedagogia da alternância no Estado, destacou a importância da educação no campo. “Este momento não é apenas de comemoração, mas de renovação de compromisso. A educação no campo precisa ser vista como um investimento estratégico para o desenvolvimento sustentável da Bahia. Vamos seguir fortalecendo a alternância, valorizando os saberes do campo e garantindo que os jovens rurais tenham a mesma qualidade de ensino e formação que os da cidade, garantindo a sucessão no campo. A pedagogia da alternância nos ensina todos os dias que política pública boa é aquela que muda a vida das pessoas, e é isso que estamos fazendo no Estado da Bahia”, pontuou Brito.

Crispim Ribeiro, ligado à educação do campo e da Pedagogia da Alternância, fez uma reflexão sobre o impacto dessa metodologia na vida do estudante rural: “Na alternância, o jovem sai da sala de aula para voltar à comunidade e traz consigo a pesquisa realizada, o plano de estudo, as práticas vividas. Ele se torna protagonista de sua aprendizagem e da transformação local. Quando isso acontece, estamos formando para o território, e não apenas para o mercado”.
Thierry Burghgrave, em seu pronunciamento, falou sobre o significado da alternância educativa, que muito foi tratado na sessão. “Novo sistema educativo, além de simples método pedagógico. Garantia de futuro digno, no campo, sem precisar fazer parte da onda migratória, para os grandes centros urbanos. A pedagogia da alternância nunca perdeu a sua essência. A alternância no Brasil foi camuflado o seu valor educativo. Ela é a continuidade da formação na descontinuidade de atividade. A alternância educativa coloca o estudante no centro da sua formação, conectando teoria, prática e comunidade, e permite que a aprendizagem aconteça no ritmo e no contexto do campo, isso é condição para uma educação verdadeiramente emancipatória”, destacou o idealizador.

Neusa Cadore, secretária de Políticas Para Mulheres (SPM); Tiago Pereira, coordenador Geral de Ações Estratégicas de Combate à Fome (Bahia Sem Fome); Penildo Filho, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Mirian Reis, reitora da UNILAB – campus dos Malês; Elisangela Araújo, suplente de deputada federal; Robinson Almeida, Zé Raimundo e Raimundinho da JR, deputados estaduais; José dos Santos, coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Valdilene Oliveira, aluna e representante das EFAs; Rita Cardoso, representante das Casas Familiares Rurais; Edinho Lima, coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas da Bahia; Padre Xavier, estiveram presentes no ato. Irmã Gabriela Canavésio, religiosa italiana, que vive há 50 anos na Comunidade de São José, em Cícero Dantas, foi lembrada por suas ações e contribuições na educação agrícola.
Durante o encontro, foram relembradas as conquistas alcançadas ao longo dessas cinco décadas e os desafios que ainda permanecem para garantir a continuidade e a valorização da Pedagogia da Alternância nas políticas públicas de educação, entre as boas memórias, esteve O bispo Dom Mário Zanetta (in memorian), missionário, natural da Diocese de Novara na Itália, chegou ao Brasil em abril de 1969, e muito contribuiu não apenas com a comunicação, mas com o apoio para a educação no campo.

50 anos na Bahia – Criada na França na década de 1930 e introduzida no Brasil em 1969, a Pedagogia da Alternância foi incorporada à realidade baiana por meio das Casas Familiares Rurais, que unem ensino teórico e prática comunitária, aproximando o aprendizado das vivências, da cultura e das necessidades locais. “Celebrar esses 50 anos é reafirmar um compromisso coletivo com uma educação transformadora, que respeita as origens, valoriza o território e oferece aos jovens do campo a oportunidade de aprender sem precisar deixar suas raízes. São 15 dias nas escolas, tento as informações da teoria, nas diversas disciplinas, e 15 dias em casa, nos campos, nas comunidades, colocando em prática o aprendizado”, destacou Fátima Nunes.

Thierry De Burghgrave – Nascido em Gent, na Bélgica, em 1946, vive no Brasil, especificamente no sertão da Bahia, há mais de 50 anos, engajado em projetos diversos de educação do campo e desenvolvimento sustentável, como Cooperante de Organizações Não Governamentais (ONGs). Chegou no Brasil, mais precisamente em 1972, a convite da Fundação para o Desenvolvimento Integrado do São Francisco – FUNDIFRAN, com sede ne cidade da Barra.
Um dos iniciadores das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) na Bahia desde a década de 1970, foi por muitos anos assessor pedagógico do movimento das EFAs na Bahia e no Brasil, atuando na Equipe Pedagógica Nacional (EPN) da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil – UNEFAB, da qual foi um dos fundadores. A esse título, assessorou vários cursos de formação para monitores e monitoras em vários estados do Brasil, bem como participou em Seminários Estaduais, Nacionais e Internacionais sobre Educação do Campo e Pedagogia da Alternância. Participou diretamente da criação da Escola Comunidade Rural (ECR) de Brotas de Macaúbas em 1975 e da Escola Família Agrícola da Região de Alagoinhas (EFARA) em 1982, das quais foi monitor e coordenador durante vários anos.
Ajudou a criar Associações Regionais na Bahia e Sergipe, como a Associação das Escolas das Comunidades e Famílias Agrícolas da Bahia (AECOFABA – 1979) e a Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA – 1994) da qual foi Assessor Pedagógico de 1994 a 2003. Casado com Tercina Souza De Burghgrave, pai de três filhos e avô de seis netos, aposentado, vive atualmente em Brotas de Macaúbas-BA, onde continua dando sua contribuição à Escola Família Agrícola Regional (EFAR).
CN | Fonte: Ascom da deputada estadual Fátima Nunes (PT-BA) / Primeira Vice-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia




