A volta da adolescente Marcela de Oliveira Anunciação, que na sexta-feira, 29 de março completou 17 anos, a comunidade de Boa Vista de Aroeira, na noite de terça-feira (02), onde sempre morou com seus pais Raimundo Anunciação Silva e Eva Simões de Oliveira, juntamente com seis irmãos, foi festejada pelos parentes e vizinho semelhante à parábola do Filho Pródigo, a mais conhecida das parábolas de Jesus, apesar de aparecer apenas em um dos evangelhos canônicos. De acordo com Lucas capitulo 15 versículos 11 a 32, a um filho mais novo é dada a sua herança e depois de perder sua fortuna, pois a palavra “pródigo” significa desperdiçador, extravagante, volta para casa e se arrepende.
No caso de Nana, como é conhecida a adolescente, ela saiu de casa no dia 28 de dezembro de 2012 sob alegação de não ter liberdade e foi “ganhar” a vida em Salvador, ficando na residência de outra menor, no subúrbio de Lobato. Durante todo este tempo, Nana não manteve contato com os pais, que são agricultores familiares e não sabiam como procurá-la.
O desespero dos familiares começou na quinta-feira, 28, véspera do aniversário de Nana, ao receberem uma notícia que ela havia sido assassinada em Salvador e, dada as limitações dos pais, ficou a angustia e as dificuldades de saber a verdade.
No sábado (30), à noite, por intermédio da estudante de psicologia Alana Rodrigues, residente no Distrito de Aroeira, o fato chegou ao conhecimento do secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de Conceição do Coité, Valdemi de Assis. Demonstrando preocupação pelo caso, a estudante relatou o sofrimento das pessoas da comunidade em saber a verdade e resolver o problema.
Na busca por mais informações, Rosimeire Anunciação, agente de saúde da comunidade, foi procurada e confirmou o fato e as “conversas” de que realmente teria sido assassinada, mas tudo estava sem esclarecimento. No domingo (31), um veículo foi colocado à disposição dos pais e Raimundo Silva foi a Salvador, esteve no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues com objetivo de identificar o corpo da filha, pois havia três corpos de mulheres não identificados. Ele voltou da capital aliviado, pois nenhuma era da sua filha, porém angustiado para saber onde ela estava.O CN publicou sua foto para tentar ajudar na localização da mesma.
Com o tempo passando, mais uma viagem a Salvador,na terça,02, desta feita pelo secretário Valdemi de Assis e acompanhado por pessoas da comunidade. Mais uma procura no IML e, com ajuda de uma vizinha de prenome Maristela, a adolescente foi encontrada no Bairro do Lobato.
Tudo parecia que não teria um final feliz e até uma funerária foi mobilizada, o caixão havia sido escolhido e a tristeza abateu a comunidade. Ás 16h de terça-feira (03) chegou à notícia que Nana havia sido encontrada, estava viva e retornando a sua comunidade. O povo foi se juntando na casa de Dona Leninha, tia e madrinha de Nana, com sentimento de tristeza, parecendo não acreditar na notícia.
O grito de alegria veio ás 22h, quando Nana chegou à comunidade. O pai Raimundo, não se conteve, correu em direção do veículo, adentrou, abraçou a filha e começaram a chorar. No terreiro da casa, parentes e amigos a aguardava e ao descer do carro, a adolescente foi recebida com aplauso e muito choro de “alegria”.
A líder comunitária Rosimeire Anunciação, contou ao CN o sofrimento dos moradores da comunidade que não puderam vivenciar os dias maiores da semana santa diante da angustia e ansiedade. Agradeceu a Deus pelo retorno de Nana e pediu para que nunca mais acontecesse fato desta natureza.
Outra coincidência com a parábola do Filho Pródigo foi a fato de Nana haver deixado a comunidade após desentendimento com o pai, ser recebida de volta festivamente, sob o abraço caloroso de perdão do pai e, olhando sob o espírito religioso, na tradição católica ocidental, esta parábola é geralmente lida no terceiro domingo de Quaresma, enquanto que na Igreja Ortodoxa, a leitura ocorre no Domingo do Filho Pródigo.
Esta é a última das três parábolas sobre perda e redenção, na sequência da Parábola da Ovelha Perdida e da Parábola da Moeda Perdida, que Jesus conta após os fariseus e líderes religiosos o terem acusado de receber e compartilhar as suas refeições com “pecadores”. A alegria do pai descrita na parábola reflete o amor divino, a “misericórdia infinita de Deus” e “recusa de Deus em limitar a sua graça”, o que foi observado no abraço de Raimundo em sua filha, mais velha entre as mulheres e a segunda entre os filhos vivos.
Por: Raimundo Mascarenhas
