Insatisfeitos com a relação com o Palácio do Planalto e o PT, um grupo de oito partidos da base aliada resolveu formar um “bloco informal” na Câmara dos Deputados para se contrapor ao governo e estabelecer as próprias prioridades de votações na Casa.
As queixas de integrantes da base se assemelham ao discurso do PMDB que, desde o início do governo Dilma, adotou o mote de que a base chega até a ter “ministro mas não tem ministério”. As principais críticas se concentram no fato de que os programas de maior relevância do governo estão concentrados nas pastas comandadas pelo PT. E que, em razão do esvaziamento dos demais ministérios, pouco poderá ser apresentado como projeto de interesse dos cidadãos na próxima disputa eleitoral.
“O sentimento colocado no jantar na noite de quarta-feira, 19, dessa forma, o PT vai fazer uma bancada de 100, 120 deputados, enquanto que os demais partidos serão enfraquecidos”, disse o deputado Luis Fernando Faria.
O novo grupo conta com 278 deputados, número suficiente para impor maioria em votações no plenário. “Há uma insatisfação muito grande com o governo. Os partidos estão se sentindo enfraquecidos. O governo tem tudo. O PT tem tudo e a base nada” afirmou o anfitrião do jantar, Luiz Fernando Faria.
Os acertos de como será a condução da “bancada dos descontentes” foi feito em jantar realizado na quarta-feira, 19, em Brasília no apartamento funcional do deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG) e contou com a presença do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e lideranças das legendas PP, PR, PSD, PDT, PTB, PROS, PSC e do partido de oposição Solidariedade. Um novo encontro já está marcado para a próxima terça-feira, 25.
Presente ao encontro, o líder do PSD, deputado Moreira Mendes (RO), também não poupou críticas. “A maioria aqui da Casa vai disputar eleição daqui a oito meses. O que vamos levar?”, ponderou. “O pessoal do PT sabe tudo. Sabe quando o maquinário de um ministério vai ser entregue, por exemplo, e sai na frente e vai lá e entrega (no município). Isso é desleal”, acrescentou.
A preocupação com o tamanho da bancada da Câmara deve-se em parte ao fato de que tanto a divisão do Fundo Partidário quanto o tempo de programa de TV são baseados pelo número de deputados eleitos.
No jantar de ontem, também ficou acordado que não será aceito acertos individuais dos partidos com o Palácio. A ideia é evitar que o governo neutralize o grupo, resolvendo questões pontuais de cada legenda.
Irritado com a pressão do Palácio do Planalto para votar o Marco Civil da Internet, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), anunciou que comandará uma nova rebelião na base governista. “Vamos parar todos os projetos que estão em regime de urgência, nossa posição é derrubar e reapresentar com urgência regimental, de modo a destravar as votações. Só não faremos isso ´se houver consenso para votar rapidamente, em dois minutos. Queremos limpar a pauta”, afirmou Cunha, após reunião da bancada nesta quarta.
Atualmente, há cinco propostas enviadas ao Congresso em regime de urgência, entre elas o Marco Civil da Internet e a criação de cotas para negros em concursos públicos. Projetos em regime de urgência constitucional, quando não votados, paralisam a pauta e impedem a apreciação de outras matérias. Por causa da regulação da web brasileira, a Câmara não pode analisar outros projetos de lei desde outubro do ano passado.
Além do Marco Civil, o PMDB, principal aliado do governo, está insatisfeito com a reforma ministerial da presidente – a sigla quer comandar mais pastas. “Essa decisão não manda nenhum recado, eu não tenho nada contra ninguém. É questão apenas de querer ter a prerrogativa do Parlamento de poder a sua pauta destravada. Mas respeitaremos o compromisso de não colocar matérias que causem impacto fiscal”, disse o líder peemedebista.
VETOS
Durante reunião da bancada, o PMDB decidiu ainda que votará contra todos os vetos de Dilma a projetos que o partido apoiou em plenário. Um deles será o que regulamenta a criação de municípios, derrubado pela presidente sob a alegação de que criaria mais despesas à União. O Congresso Nacional vai se reunir na próxima terça-feira para apreciar os vetos presidenciais.