Com criativos cartazes, faixas e gritos a favor da legalização, mais de 200 pessoas fizeram, na tarde de ontem, a Marcha da Maconha. Concentrados no Cristo, na Barra, os manifestantes percorreram, acompanhados de perto pelospoliciais militares, até o monumento das gordinhas, em Ondina. A proposta da caminhada é a mudança da política de drogas do país, com a descriminalização da produção, venda e consumo da erva, assim como já acontece no Uruguai.
A marcha também pede a celeridade na aprovação do projeto relatado pelo senador Cristovam Buarque que tramita na Comissão de Direitos Humanos e trata sobre o plantio doméstico e a comercialização em locais licenciados.
“É um tema muito importante e que veio de iniciativa popular. Ainda muito polêmico por causa de uma parcela dasociedade conservadora. Assim como o álcool e o cigarro, a maconha também deve ser consumida livremente”, disse Fabiano Cunha dos Santos, um dos organizadores do evento.
Ele ainda acrescentou que a legalização da maconha ajudará no controle do tráfico de drogas. “O jovem fuma uma erva de má qualidade, muitas vezes misturada com outras substâncias que podem causar danos à saúde. Sem contar que a folha traz benefícios medicinais”, declarou.
Consumidora há 15 anos, uma artista plástica que preferiu não se identificar disse que é a única droga que usa com regularidade. “Ao contrário do que muitos pensam, uma droga não atrai a outra. Não uso crack, não cheiro cocaína, não tomo rivotril, não fumo cigarro e raramente bebo. Levo minha vida normalmente. Trabalho, estudo, tenho meu marido e meus filhos. Fumo maconha todo dia porque gosto. Fumo e não incomodo ninguém, me relaciono bem com meus vizinhos, amigos e colegas de trabalho. Não compro com os traficantes. Minha plantação é artesanal e em casa. Minhas plantinhas estão num lugar seguro e discreto”, confessou.
Por meio do portal e-cidadania do Senado, qualquer pessoa pode fazer proposições legislativas. A proposta de legalização da maconha recebeu mais de 20 mil assinaturas eletrônicas de apoio. Com isso, ela seguiu para a Comissão de Direitos Humanos, CDH, para começar a tramitar. Cristovam será o primeiro relator da matéria e ficará encarregado de construir um texto que servirá de base para as discussões sobre o projeto.
Além da CDH, o projeto deverá passar pela Comissão de Constituição e Justiça e, possivelmente, pela de Assuntos Sociais. Só depois do parecer dessas comissões é que a matéria deverá ir ao plenário e, se for aprovada, seguir para nova discussão na Câmara dos Deputados.
O Uruguai tornou-se o primeiro país do mundo a descriminalizar completamente a produção, venda e consumo de maconha. O projeto aprovado no Senado por 16 votos a 13 prevê que a produção e o comércio da droga serão controlados pelo Estado. Será permitido ter até seis pés em casa para uso próprio. A erva também será vendida na farmácia. O usuário poderá comprar até 40 gramas por mês. Quem quiser também pode associar-se a uma cooperativa produzindo até 480 gramas por pessoa/ano.
Redação: CN*Informação: Tribuna da Bahia