Uma foto publicada nas redes sociais, mostrando o vereador Cleiton Neves (MDB) ao lado do secretário de Agricultura de Ouriçangas, Adson, irmão do ex-prefeito Antônio de Fiito (PSB), foi o ponto de partida de uma entrevista que movimentou o cenário político do município recentemente. O registro, interpretado por alguns como sinal de aproximação entre o parlamentar e o grupo da situação, foi o primeiro assunto abordado pelo radialista e suplente de vereador Jimicley Araújo, durante o programa “Fala Bahia”, na Rádio Comunitária Ouriçangas FM. A oposição elegeu apenas dois vereadores: Cleiton pelo MDB e Lalo pelo Solidariedade.

Logo no início da entrevista, Jimicley questionou o vereador sobre o teor da foto e as especulações políticas que ela gerou. O clima esquentou rapidamente. Convidado a se pronunciar, Cleiton Neves — único vereador eleito pelo MDB, com 234 votos — afirmou que não houve qualquer tipo de articulação política por trás da imagem e aproveitou para criticar a falta de atenção e de compromisso do seu próprio partido.
Segundo Cleiton, o MDB municipal passou por mudanças na direção sem que ele fosse sequer comunicado. O ex-presidente Joelson Murilo (Jó de Pascoal), que comandava a sigla no período eleitoral, foi substituído por Tarcísio de Milton, ex-candidato a prefeito. “Soube por acaso. Brinquei chamando Jó de ‘meu presidente’ e ele respondeu que já não era mais”, relatou o vereador, em tom de desabafo.
O parlamentar contou ainda que se sentiu traído politicamente durante a campanha, quando buscava o apoio de Nado do Pão, liderança do povoado de Sítio Novo, para fortalecer sua votação. Segundo ele, o plano não se concretizou porque a Justiça Eleitoral indeferiu a candidatura de Nado, por filiação fora do prazo, o que acabou frustrando uma articulação que, segundo Cleiton, ampliaria a presença do MDB na zona rural.

O vereador destacou que, nas últimas eleições, o MDB somou 558 votos para vereador, sendo 234 dele, 186 de Tia Celina (mãe de Tarcísio) e 128 de Pires, comerciante do ramo de material de construção. “Eu exijo respeito. Sou o único vereador do MDB e não posso ser tratado como se não tivesse mandato”, afirmou.
Durante a entrevista, Cleiton também reclamou das críticas e deboches nas redes sociais — o que chamou de “sharking”, expressão usada para se referir às ironias virtuais. Ele disse que a maior parte dos ataques vem do próprio grupo político, e não dos aliados do prefeito. “Curiosamente, o pessoal da situação é quem mais me respeita”, completou, destacando sua boa convivência com vereadores da base governista.
O apresentador Jimicley, que conduziu a entrevista com firmeza, manteve o foco no debate, mas o tom da conversa acabou se elevando. Em determinado momento, o radialista afirmou que iria mobilizar o grupo político ao qual pertence para “lavar as roupas sujas” em uma reunião interna. Na prática, porém, as roupas sujas acabaram sendo lavadas ali mesmo, ao vivo e em alto volume, no microfone da Ouriçangas FM.

Mesmo diante da repercussão, Cleiton Neves afirmou que ainda não está alinhado com o prefeito Rony (PT), mas aguarda uma conversa com o gestor municipal. Segundo ele, qualquer decisão futura será tomada com base no diálogo e no compromisso com a população.
Impacto político
O episódio teve forte repercussão dentro do grupo de oposição de Ouriçangas, formado por integrantes do MDB, Solidariedade e alguns membros do Podemos. Caso o vereador Cleiton Neves, atual representante do MDB na Câmara, venha a aderir à base do prefeito, a oposição perderá o seu principal nome com mandato, restando apenas Tia Celina, suplente de vereadora, e Pires, comerciante que também disputou a eleição pela sigla.
Nos bastidores, comenta-se que o MDB local pode se dividir em duas frentes de apoio para deputado estadual, com as pré-candidaturas de Ludmilla Ficina (PV), que já se movimenta eleitoralmente, e Larissa Moraes, secretária de Recursos Hídricos do Governo do Estado, que deverá se afastar do cargo para disputar a eleição.

Outro nome que começa a ganhar destaque é o do empresário Jean Primos, articulador da criação do Podemos em Ouriçangas, que tem divulgado a intenção de disputar a eleição municipal de 2028, com apoio do ex-prefeito Givaldo da Paixão, o Val, aliado de ACM Neto, cuja posição de oposição ao grupo petista já é pública e declarada.
O cenário mostra que a entrevista na rádio não apenas expôs divergências, mas também revelou as rachaduras e reposicionamentos dentro da oposição, que ainda busca um caminho de unidade para o futuro político do município.
E, afinal, o que diz o ditado?
A expressão popular “roupa suja se lava em casa” significa que os desentendimentos devem ser resolvidos de forma discreta, em ambiente interno. Mas, em Ouriçangas, a máxima ganhou um novo endereço — a rádio comunitária, onde, ao vivo e em alto e bom som, a política local mostrou que prefere lavar sua roupa suja no ar.