A Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal (PF) com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU), Receita Federal e Ministério Público Federal (MPF), vem revelando um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos através de emendas parlamentares na Bahia.
Com origem em 2024 e já em sua oitava fase, a investigação envolve empresas de fachada, prefeitos, servidores públicos, familiares de políticos e parlamentares federais baianos, com valores que ultrapassam R$ 1,4 bilhão.
Segundo os órgãos de controle, o esquema operava por meio da indicação de emendas a municípios específicos, seguida da simulação de licitações e da contratação de empresas sem capacidade técnica, criadas apenas para justificar o repasse de verbas públicas.

As fases da operação
A primeira fase, em dezembro de 2024, desarticulou o núcleo que desviava recursos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e de programas federais na Bahia.
A segunda e terceira fases, já no início de 2025, ampliaram o alcance da investigação, atingindo empresas de consultoria e assessorias técnicas que intermediaram convênios fraudulentos entre prefeituras e órgãos federais.
Em junho de 2025, a quarta fase levou a 16 mandados de busca e apreensão em Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga. Três servidores foram afastados. Foi nesse momento que nomes de parlamentares baianos começaram a surgir nas decisões judiciais e nos relatórios da PF.
As fases seguintes (5ª a 8ª) focaram na identificação dos beneficiários políticos e financeiros do esquema. A Polícia Federal confirmou apreensões de celulares, documentos e dinheiro escondido em sapatos, além do bloqueio de R$ 85 milhões em bens e investigações sobre contratos baseados em emendas parlamentares federais.

Deputados federais citados
Félix Mendonça Júnior (PDT-BA)
Deputado experiente e um dos nomes mais conhecidos da bancada baiana, Félix Mendonça Júnior aparece na investigação devido à destinação de emendas que somam cerca de R$ 50 milhões para municípios como Boquira, Ibipitanga e Paratinga, entre 2021 e 2024.
A PF apura se parte dessas emendas teria sido direcionada a contratos superfaturados e licitações fraudulentas, por meio de empresas ligadas a operadores locais.
Um assessor parlamentar, Marcelo Chaves Gomes, foi alvo de busca e apreensão e é apontado como articulador de liberações suspeitas.
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a quebra de sigilo telefônico de Mendonça Júnior.
O parlamentar nega envolvimento e declarou que “apenas indicou as emendas solicitadas por prefeitos”, cabendo às administrações municipais a correta execução dos recursos. Até o momento, não há mandado de prisão nem denúncia formal contra ele.
Elmar Nascimento (União Brasil-BA)
Outro nome citado na investigação é o do deputado Elmar Nascimento, líder do União Brasil e figura de grande influência no Congresso Nacional. Embora não tenha sido alvo direto de mandados, a operação atingiu familiares e aliados políticos do parlamentar.
O irmão do deputado, Elmo Aluízio Vieira do Nascimento, prefeito de Campo Formoso, e um primo, Francisco Nascimento, foram alvos de busca e apreensão.
A PF investiga se contratos municipais e emendas federais ligadas à rede de apoio de Elmar foram usadas para fraudes e lavagem de dinheiro.
Em nota pública, o deputado nega qualquer relação com as irregularidades e afirma confiar na Justiça para comprovar sua inocência.
O que está em jogo
A Operação Overclean mira o uso indevido das emendas parlamentares, um dos instrumentos mais poderosos e sensíveis da política brasileira. Os investigadores apontam que parte dos recursos federais teria sido desviada por meio de licitações fraudulentas e intermediação de verbas em troca de vantagens pessoais e eleitorais.
Entre os crimes apurados estão organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e lavagem de dinheiro. O processo segue sob sigilo parcial, mas as fases já expuseram ligações entre núcleos políticos e empresariais que atuavam de forma coordenada em várias cidades do interior da Bahia.
Expansão para outros estados
Após oito fases e dezenas de mandados cumpridos, a Overclean começa agora a alcançar outros estados brasileiros. A PF já confirmou novos alvos em Sergipe, Minas Gerais e no Distrito Federal, onde também há suspeitas de esquemas de emendas e contratos federais com modus operandi semelhante ao da Bahia.
Com isso, a operação deixa de ser um caso regional e passa a ter dimensão nacional, incluindo parlamentares de outros estados e empresas de alcance interestadual. A expectativa é que os próximos relatórios da PF tragam novos nomes e ampliem o escopo das investigações no Congresso Nacional.
Outros deputados envolvidos
Dal Barreto (União Brasil-BA) — alvo direto da Operação Overclean na 6ª fase (14.out.2025); houve busca e apreensão e apreensão de celular no Aeroporto de Salvador.
Ricardo Maia (MDB-BA) — não integra a Overclean; responde a outras investigações relacionadas à gestão municipal e ao uso de emendas.

Deputados estaduais da Bahia investigados pela PF
Kléber Cristian Escolano de Almeida, o “Binho Galinha” (PRD-BA) — alvo de operações da PF contra milícia e lavagem de dinheiro em 2023 e 2025.
As apurações indicam atuação criminosa com agiotagem, extorsão, jogo do bicho e lavagem, com prisões de familiares e policiais ligados ao esquema. O deputado chegou a ser foragido e depois preso, permanecendo um dos casos mais emblemáticos de envolvimento direto de parlamentar estadual em ações da PF na Bahia.
Até o momento, não há outros deputados estaduais com mandato formalmente alvos de operações da PF com mandado de prisão ou busca. Caso surjam novas ações, o Calila Notícias atualizará esta seção.




