Um estudo apresentado no Congresso de Oncologia de Berlim e publicado na revista Nature revelou que vacinas de mRNA contra a Covid-19, como as da Pfizer/BioNTech e Moderna, podem tornar tumores resistentes mais sensíveis à imunoterapia.
Pesquisadores do MD Anderson Cancer Center e da Universidade da Flórida descobriram que as vacinas estimulam uma forte resposta imune do tipo interferon, ajudando o corpo a reconhecer e atacar células cancerígenas.
A análise de 880 pacientes com câncer de pulmão e melanoma metastático mostrou que quem recebeu a vacina até 100 dias antes ou depois do início da imunoterapia teve sobrevida quase dobrada — passando de 20,6 para 37,3 meses no câncer de pulmão — e redução de até 60% no risco de morte no melanoma.
Esse efeito não foi observado em vacinas contra gripe ou pneumonia, indicando que o benefício é específico da tecnologia de mRNA.
Segundo o oncologista Stephen Stefani, a vacina “reprograma o sistema imune”, aumentando a expressão da proteína PD-L1, que torna os tumores mais visíveis ao tratamento imunoterápico.
Os cientistas ressaltam que as vacinas da Covid não tratam o câncer, mas revelam o potencial do mRNA como ferramenta para melhorar a eficácia da imunoterapia e abrir caminho para novos protocolos personalizados no futuro.
Além dos resultados em humanos, testes com camundongos mostraram que a vacina de mRNA provoca uma forte ativação do interferon tipo I, responsável por estimular células de defesa e transformar tumores “frios” — pouco reconhecidos pelo sistema imunológico — em tumores “quentes”, mais vulneráveis à ação das drogas imunoterápicas.
Em amostras de mais de 2.300 biópsias de câncer de pulmão, os pesquisadores também observaram um aumento de 24% na expressão de PD-L1 entre pacientes vacinados nos 100 dias anteriores, o que ampliou a resposta ao tratamento e permitiu, em alguns casos, dispensar o uso de quimioterapia.
Para Stefani, o estudo mostra que o momento da vacinação pode ser crucial: quanto mais recente e ativa a resposta imune, maior a eficácia da imunoterapia subsequente. Ele avalia que a descoberta pode ajudar médicos a planejar o início do tratamento oncológico levando em conta o histórico vacinal do paciente.
Os autores destacam ainda que a descoberta abre espaço para o desenvolvimento de vacinas de mRNA personalizadas, desenhadas não apenas para prevenir infecções, mas também para “treinar” o sistema imunológico a combater diferentes tipos de tumores — um campo promissor que pode revolucionar a oncologia de precisão nos próximos anos.
Fonte: g1




