Responsável por condenar à prisão ao menos 114 traficantes, o juiz Odilon de Oliveira, de 76 anos, se vê hoje quase igualmente aprisionado. Graças ao seu trabalho como magistrado federal, grandes criminosos, como Fernandinho Beira-Mar, foram devidamente condenados pelos seus crimes. Após perder o direito à sua escolta, no entanto, o juiz aposentado não pode sair de casa sem que a sua própria integridade física esteja em risco.
“Eu tive que me restringir bem e hoje praticamente não saio mais de casa, virei um prisioneiro”, disse. “Andei com escolta 24 horas por dia desde 1998, por 20 anos, justamente pela concretude dos riscos à minha vida. E agora estou sem nenhuma proteção.”
Odilon conta que atuou como juiz federal por mais de 30 anos. Durante a sua trajetória, recebeu diversas ameaças de criminosos de facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de ter sido alvo de atentados contra a sua vida.
Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, ele contou que passou cerca de 20 anos vivendo com escolta da Polícia Federal. “Você perde amigos, eventos de família e datas importantes, porque ninguém quer você por perto, com razão. Além disso, é desagradável ter seguranças armados ostensivamente com rifle, metralhadora”, relatou.
Segundo o ex-magistrado, o serviço de escolta parou de ser oferecido em 2019. Ele explicou que se aposentou em 2017 e, em 2018, concorreu às eleições estaduais de Mato Grosso do Sul. Por conta da campanha, a Polícia Federal entendeu que não seria mais necessária a manutenção do serviço de segurança.
“Eu entrei com um recurso no CNJ e uma ação no tribunal federal. Reuni milhares de páginas, provas, ameaças, mas não há decisão nem em um caso nem no outro até hoje. Pedi para reconsiderarem e voltarem a me fornecer algum nível de escolta”, disse. Ele pede uma escolta por seis horas por dia, em até três vezes na semana.
Segundo o relato, ele até tenta manter uma escolta por conta própria, para realizar tarefas básicas, como ir ao médico ou fazer compras, mas os custos são altos para o seu padrão de vida.
Odilon calcula que custear a sua segurança com recursos próprios seria insustentável, visto que teria que desembolsar ao menos R$ 1 mil por dia. “É decepcionante para um delegado, um promotor ou um juiz que renunciou à sua própria liberdade para proteger a sociedade, combatendo o crime organizado, ser completamente abandonado após se aposentar”, lamentou.
O ex-magistrado ingressou com recurso no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) solicitando a retomada da escolta, mas o processo ainda está em tramitação.
Fonte: Correio