Depois de uma semana marcada por polêmica, o mutirão de saúde visual do Instituto Mais Visão foi encerrado na manhã desta terça-feira, 07, em Conceição do Coité, após cinco dias de atendimentos gratuitos realizados em frente ao auditório do SINTRAF (Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar) e no distrito de Salgadália.
A ação só aconteceu após uma decisão judicial obrigar a Prefeitura a liberar o alvará sanitário, inicialmente negado sob alegação de irregularidades. O Instituto, que atua há oito anos e percorre cerca de 200 municípios por ano, afirmou que foi a primeira vez que precisou acionar a Justiça para conseguir trabalhar.
Segundo o coordenador do projeto, Lucas Ribeiro, o atendimento superou as expectativas, alcançando cerca de 1.600 pessoas, com média de 400 atendimentos diários. Ele destacou que muitos dos exames realizados — como tomografia de coerência óptica (OCT), mapeamento de retina, retinografia e diagnósticos de catarata e retina — são procedimentos que, pelo SUS, costumam ter fila de espera de até seis meses, e que alguns pacientes relataram aguardar há mais de dois anos.

Lucas ressaltou que os pacientes puderam fazer todos os exames sem burocracia e receberam os resultados imediatamente, o que permitiu que pessoas diagnosticadas com doenças oculares já fossem encaminhadas para tratamento e cirurgias. “Nosso foco é garantir acesso rápido e gratuito a quem mais precisa, sem custo algum para o paciente nem para o município”, afirmou.

A grande maioria dos atendidos saiu com óculos gratuitos, cujo custo no mercado varia entre R$ 800 e R$ 1.200. Já aqueles que optaram por lentes especiais, como as do tipo Transistions, pagaram apenas uma taxa simbólica de R$ 80. Lucas informou ainda que a meta é doar cerca de 20 mil óculos em Conceição do Coité, beneficiando prioritariamente pessoas em situação de vulnerabilidade.
O coordenador lamentou a postura da gestão municipal, que, segundo ele, tentou “denegrir o trabalho filantrópico” do Instituto com alegações infundadas e publicações nas redes sociais. “É lamentável que um trabalho que só traz benefícios sociais precise enfrentar barreiras políticas e desinformação. Tivemos todo o respaldo da Justiça, que reconheceu nossa legalidade e regularidade sanitária”, pontuou.
Ele disse que de alguma forma a Fake News publicada pela Prefeitura e pelo prefeito contribuiu para que outra boa quantidade de pessoas ficassem sem o benefício, e que vai requer uma retratação por parte da gestão municipal.
Lucas também questionou a conduta da Prefeitura: “Será que 199 municípios foram negligentes por nos receber, e só Conceição do Coité cumpriu o papel correto?”, ironizou, reforçando que toda a documentação havia sido protocolada, mas a Vigilância Sanitária Municipal se recusou a receber.

Lucas finalizou esclarecendo que o Instituto não possui vínculo com óticas e que qualquer paciente pode usar a receita para adquirir seus óculos onde desejar, contrariando boatos de que haveria obrigação de compra. “Nosso compromisso é com a saúde ocular e com o acesso justo à visão, não com o comércio”, concluiu.
Depoimentos dos pacientes
O Calila Notícias ouviu alguns beneficiados pelo mutirão, que relataram satisfação com o atendimento e destacaram a importância do serviço para a população de baixa renda.
Dona Delzuita Albertino Freitas, 64 anos, moradora de Salgadália, contou que não esperava um atendimento tão bom. “Eu já estava pensando em marcar um exame pago, e recebi tudo gratuitamente. A coisa já tava boa, ficou melhor quando soube agora que vou ganhar o óculos também”, comemorou a agricultora.

Também de Salgadália, Katiele Pastor Neves disse que aproveitou a oportunidade assim que soube da ação. “Eu já ia procurar uma ótica, mas quando é grátis costuma demorar, e aqui foi tudo muito rápido. Fui bem atendida e saí satisfeita”, afirmou.

Já Devisson da Silva Santana, do povoado Lagoa do Meio, contou que decidiu participar depois que a esposa elogiou o atendimento. “Ela fez o exame no dia anterior e disse que foi tudo muito fácil. Eu também não tive dificuldade nenhuma. A situação financeira da gente não é das melhores, e com tudo de graça é um alívio muito grande”, destacou.
