Apesar dos poréns que eventualmente envolvem sua figura pública, Ciro Gomes tem sido direto e certeiro, quando se trata de ajudar o povo a entender o que está acontecendo no Brasil e de fato boa parte dos brasileiros ainda parece dar ouvidos ao discurso golpista da oposição.
Mais do que convocar as pessoas para a rua, portanto, quem é governista precisa tratar de esclarecer o povo, porque a aparente dificuldade de mobilizar as pessoas, em muitos lugares, resulta da dificuldade que elas têm para compreender a conjuntura política e econômica. Há pessoas pobres pensando que um eventual governo da oposição melhoria bastante suas vidas.
O necessário esclarecimento se faz nos grupos sociais de que se participa, sejam eles virtuais ou não, reproduzindo a palavra de gente sensata que tenha se pronunciado sobre o assunto e, claro, apresentando as próprias convicções.
Em pouco tempo, podemos ter uma sociedade vacinada contra certas tentativas da oposição, no sentido de construir atalhos para chegar ao poder. A malsucedida luta em curso pelo impeachment não passa disso: artimanha da oposição inconformada com a derrota nas urnas, e é isto que o povo brasileiro precisa entender.
O mérito de Ciro Gomes, nesse campo, tenha ele as intenções políticas que tiver, é justamente o de ter aparecido em rede nacional, sucessivas vezes ultimamente, sem meias palavras, para dizer o seguinte: “Ninguém acusa Dilma de um crime de corrupção, nem nada, a acusação é de que ela mandou a Caixa Econômica pagar o Bolsa Família, para pagar depois, o que Fernando Henrique fez por oito anos, Lula fez por oito anos e o Tribunal de Contas nunca disse nada.”
Agora ficam oposicionistas de renome, a pretexto de combaterem a corrupção, fazendo contorcionismos jurídicos para colocar na cabeça da população menos instruída que há erro grave da parte da presidente e que retirá-la a qualquer custo do poder iria melhorar significativamente o país.
Imaginem o leitor, a leitora, entregar o Brasil para ser governado por um “parceiro íntimo de Eduardo Cunha em tudo e por tudo”. É assim que Ciro Gomes o classifica e ele deve saber bem do que está falando, porque conhece melhor do que nós os meandros do cenário político nacional.
Mas não interessa aos detratores do governo ajudar o povo a pensar nisso. Deixam o povo pensar que haverá novas eleições ou que Aécio Neves chegará fácil à presidência, porque pensando assim certos setores da população, naturalmente insatisfeitos com as dificuldades econômicas, que são reais, compram a ideia do impeachment. Uma ideia que ensaia se concretizar, mas que já vem sofrendo o inevitável desgaste do seu descabimento evidenciado, em parte pela decisão do STF, ao desfazer o engodo da comissão mal constituída por Eduardo Cunha, em parte, pelos movimentos de trabalhadores que foram às ruas, justamente por estarem em melhores condições de compreender o que acontece em Brasília.
Cabe por isso a quem se encontra no seio dos partidos governistas ou no próprio governo vencer certa noção de que aqueles que não vão às ruas estão a favor do golpe, ou de que estes que se encontram mais engajados sejam mais patriotas ou tenham o mérito de estarem evitando o golpe quase sozinhos. Não é bem assim.
As pessoas, ao descobrirem que corrupção não escolhe partido, tornaram-se menos partidárias, por isso, atendem menos ao chamado partidário explícito e mais àqueles que falam espontaneamente, do lugar da cidadania, sem posições extremadas, que sempre apresentam um ar de sectarismo. O momento é de vencer o sectarismo religioso ou de qualquer natureza e de mobilizar o povo a partir da demonstração de como funcionam as engrenagens políticas, no momento.
A vitória contra o golpe será tanto mais eficaz quanto menos tempo perdermos para criar consciência entre as pessoas de que essa história de impeachment nada tem a ver com combate à corrupção e, pelo contrário, se viesse a se concretizar, mergulharia o país em situação insustentável.
Vamos às ruas, mas vamos também ao rádio, aos sites, aos blogs, etc. A grande mídia está engajada no golpe, mas os pequenos veículos do interior do país costumam oferecer abertura a gente sensata e é por meio destes veículos que podemos esclarecer o povo de cada microrregião, de forma a termos cidades inteiras mais conscientes e menos influenciáveis.
José Avelange Oliveira, licenciado em Letras pela Universidade Estadual da Bahia, pós-graduado em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Cândido Mendes.