A Associação Família Azul, que há quase uma década atua em Conceição do Coité em prol das pessoas com autismo e suas famílias, promoveu neste domingo (12) uma das celebrações mais marcantes de sua história. O Dia das Crianças foi comemorado com uma grande festa no Sítio Galileia, propriedade do juiz Gerivaldo Alves Neiva, magistrado da comarca de Coité, que recentemente revelou ser autista de grau 1.
O evento reuniu cerca de 200 pessoas, entre crianças autistas, pais e responsáveis, em um dia repleto de lazer, brincadeiras, alimentação e acolhimento.

A comemoração, que acontece todos os anos, ganhou um significado especial desta vez. O espaço oferecido pelo juiz proporcionou às crianças um ambiente amplo e tranquilo, ideal para que elas pudessem brincar livremente e desfrutar do convívio com outras famílias.

O Calila Notícias conversou com Jhonatas, morador do bairro Mansão, que foi um dos primeiros a chegar ao sítio acompanhado do cunhado, Davi Pietro, de 9 anos, diagnosticado com autismo. “Foi um dia maravilhoso ao lado de Davi, minha esposa Tatiele e nossa filha Lívia. Só tenho a agradecer à Família Azul e ao doutor Gerivaldo pela iniciativa. As crianças puderam se divertir à vontade, com muito lazer e merenda. Foi tudo perfeito”, contou.

O juiz Gerivaldo Neiva, que abriu as portas de sua propriedade para o evento, falou sobre o significado de acolher o grupo e da importância da inclusão. Ele recordou que sua condição de autista foi descoberta já na fase adulta, após enfrentar diversos desafios.
“O autismo pra mim sempre foi mascarado. Convivi com isso sem entender, e acabei desenvolvendo problemas de saúde como depressão, ansiedade, hipertensão e diabetes. Minha terapeuta me ajudou a compreender que tudo isso estava ligado à minha condição. Foi então que decidi assumir publicamente — e isso foi libertador. Hoje me sinto mais leve e feliz por poder ajudar outras pessoas, especialmente as mães que ainda enfrentam o preconceito”, afirmou o magistrado.

Gerivaldo, que afirmou ter altas habilidades e superdotação, disse que isso o ajudou a alcançar o sucesso profissional, mas reforçou que sua trajetória também foi marcada por dificuldades e superações. “Hoje, acolher essas crianças e famílias aqui no sítio é uma forma de retribuir e de mostrar que o autismo não define limites — define apenas diferentes maneiras de existir.”
A presidente da Associação Família Azul, Iara Carneiro, destacou a importância do gesto do juiz e relembrou a trajetória do grupo, criado oficialmente em 2016, mas cuja história começou bem antes, em 2008, quando ela recebeu o diagnóstico de autismo da filha Samara.
“Naquela época, Coité não tinha nenhum suporte. Eu precisava ir a Feira de Santana ou Salvador várias vezes por semana para levar minha filha a terapeutas, psicólogas e fonoaudiólogas. Era muito difícil e caro. Com o tempo, conheci outras mães na mesma situação e criamos um grupo de WhatsApp. Dali nasceu a ideia de fundar a associação”, contou Iara.

Hoje, a Família Azul reúne 140 famílias associadas, com pessoas autistas entre 2 e 36 anos, incluindo agora o próprio doutor Gerivaldo, que se tornou um exemplo e inspiração para o grupo.
“Ele é hoje a maior referência da comunidade autista de Coité. O exemplo de vida dele despertou em cada mãe a esperança de que nossos filhos têm potencial, mesmo os de grau mais severo. A condição de autista não limita — o importante é o tratamento e o apoio da família. O doutor Gerivaldo veio para agregar, acolher e mostrar que é possível vencer”, completou a presidente.
O evento contou com apoio de voluntários, parceiros e empresas locais que contribuíram para garantir o sucesso da celebração. Entre sorrisos, abraços e momentos de pura alegria, a Festa da Criança da Família Azul reafirmou o propósito da associação: fortalecer vínculos, promover a inclusão e celebrar a diversidade.
“Ver as crianças felizes, correndo, brincando e sendo acolhidas é a maior recompensa”, resumiu Iara, emocionada.
A festa deste ano ficará marcada não apenas pela comemoração, mas também pelo gesto de empatia e representatividade de um juiz que, ao expor sua própria condição, ajudou a iluminar o caminho de tantas outras famílias coiteenses.