Um policial militar (PM) afirma ter sofrido injúria racial durante um evento esportivo em Feira de Santana. A discussão entre o capitão Leandro Muniz e a policial rodoviária federal, Michele Alencar, de 44 anos, ocorreu na manhã de domingo (5), durante um campeonato estudantil no Sesi. O PM ainda chegou a ser agredido fisicamente pelo filho da mulher.
Entenda o que aconteceu
Em entrevista exclusiva ao Acorda Cidade, site parceiro do Calila Notícias, o capitão contou que estava na escadaria da arquibancada assistindo a uma partida do campeonato, que contava com a participação do filho dele. Em determinado momento do jogo, a suposta agressora, que é uma inspetora da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e trabalha em Feira de Santana, pediu para que o PM mudasse de local, pois ele estaria atrapalhando a visão dela.
O capitão Muniz contou que, mesmo com muita gente em volta, se movimentou para atender à solicitação da mulher, que pediu pela segunda vez que ele deveria mudar de local, pois “ainda permanecia na frente dela”. O PM disse que, na tentativa de atender à solicitação, se movimentou pela segunda vez, e mesmo assim a suposta agressora o abordou pela terceira vez, afirmando que ele ainda continuava na frente dela.
“Então eu falei: senhora, tem mais de dez pessoas aqui e a senhora só está falando comigo. Eu não tenho como sentar, porque senão eu não vou assistir ao jogo, está todo mundo em pé. Aí, nesse momento, ela falou que era pra ‘eu me [palavra de baixo calão]’ e foi sentar. Eu falei com ela: a senhora deveria se respeitar, como é que a senhora, uma mulher, fala isso comigo? Aí, nesse momento, ela disse: ‘isso aí é coisa de preto’”, declarou o capitão Muniz.
Mau exemplo
O capitão contou que, a partir desse momento, quando ouviu uma fala caracterizada como uma ofensa de cunho extremamente racista, se instalou uma discussão mais acalorada entre os dois. O PM disse que o filho da mulher aproveitou um momento de distração e o agrediu pelas costas, e que ele foi obrigado a revidar, utilizando-se da legítima defesa. O tumulto foi crescendo e uma confusão generalizada se instalou na arquibancada.
“Pessoas que estavam comigo vieram para separar, pessoas que estavam com ela também. Algumas pessoas até se machucaram, se ralaram, porque lá é uma escada. Eu acionei logo de imediato uma viatura da polícia para que a gente viesse registrar a queixa, porque ela, com atitude racista, cometeu uma injúria racial comigo, [ao dizer] ‘isso é coisa de preto’”, disse o capitão Muniz.
Atrito
Ao Acorda Cidade, o PM declarou que o crime de injúria racial se torna ainda mais revoltante quando parte de um servidor público que, em tese, deveria rechaçar qualquer atitude que se assemelhe a algo criminoso. O PM afirmou ainda que não irá recuar na busca por justiça, mesmo que seja contra alguém que deveria exercer funções que promovam a própria justiça.
“E aí eu fico imaginando como deve ser a abordagem dessa mulher com o povo preto e com os pretos que são subordinados a ela. Hoje, nós que somos vítimas de racismo, não podemos nos calar. Eu não vou me calar, vou até as últimas consequências, farei aqui o registro criminal e também o registro cível, vou atrás de todos os meus direitos e não vou me calar. Ela cometeu uma atitude racista na frente de várias pessoas, tenho testemunhas. Enquanto homem preto, me senti machucado, mas sei que, se eu me calar, é pior. Tenho que correr atrás para que outras pessoas não sejam vítimas dela”, concluiu o capitão Muniz.
A Injúria racial é um crime previsto no Código Penal Brasileiro, que consiste em ofender a honra ou dignidade de uma pessoa específica utilizando elementos relacionados à raça, cor, etnia, religião ou origem.
A nossa equipe de reportagem entrou em contato com a mulher, mas ela não quis se pronunciar sobre o assunto.
Manifestação do sindicato
O Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Estado da Bahia (SINPRF-BA) se manifestou sobre o caso do capitão da PM que supostamente sofreu injúria racial em Feira de Santana.
O caso teria ocorrido durante um campeonato esportivo juvenil na manhã do domingo (5), e a suposta agressora seria uma agente da PRF. Confira o posicionamento da entidade na nota abaixo.
Nota
O Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Estado da Bahia (SINPRF-BA) vem a público manifestar-se sobre a ocorrência registrada nesta data em Feira de Santana, envolvendo uma policial rodoviária federal acusada de suposto crime de racismo.
Desde o primeiro momento, o SINPRF-BA está acompanhando de forma próxima e responsável toda a situação, prestando amparo jurídico e institucional à servidora e assegurando que todos os procedimentos sejam conduzidos com respeito aos princípios constitucionais da presunção de inocência, do devido processo legal e da ampla defesa.
É importante esclarecer que, segundo as informações disponíveis e os elementos já colhidos, a policial rodoviária federal jamais proferiu qualquer palavra ou atitude de cunho racista. Ao contrário, ela e seus familiares foram vítimas de agressões físicas e verbais, fato devidamente comprovado por exame de corpo de delito e amplamente registrado em vídeos que circulam nas redes sociais.
Chama atenção que a versão apresentada pelo policial militar, suposto ofendido, é corroborada justamente por pessoas que participaram das agressões contra a servidora e sua família, o que reforça a necessidade de apuração criteriosa, imparcial e isenta dos fatos.
Ressalta-se ainda que a função do policial militar é, por dever de ofício, garantir a segurança, a integridade das pessoas e a preservação do equilíbrio nas ocorrências, e não o contrário, como lamentavelmente se verificou nesta situação, em que houve excessos e atitudes que contribuíram para o agravamento do conflito.
O SINPRF-BA reafirma sua confiança na idoneidade, conduta ética e histórico profissional da policial, reconhecida por sua dedicação e compromisso com o serviço público e com a sociedade.
O Sindicato repudia toda e qualquer forma de discriminação, mas igualmente rechaça qualquer tentativa de inverter a condição de vítima e antecipar julgamentos, sem a devida análise técnica e probatória.
Seguiremos atentos e atuantes, prestando todo o suporte jurídico e institucional necessário, confiantes de que a verdade será restabelecida e a justiça prevalecerá.
SINPRF-BA
*Com informações do repórter Ney Silva, do Acorda Cidade.