Território do Sisal – Mesmo com as diferenças políticas, vereadores de Queimadas declararam apoio ao prefeito Ricardo Lopes (PSD), que luta para conseguir reforço dos governos estadual e federal no envio de carros-pipa e medidas emergenciais para amenizar o sofrimento da população diante da forte estiagem.
O município atravessa um dos períodos de estiagem mais difíceis dos últimos anos. Apesar de contar com cinco rios cortando seu território, a seca prolongada tem reduzido drasticamente a vazão de água, deixando várias localidades em situação de vulnerabilidade.
Com uma área territorial de mais de 2 mil km² e dezenas de povoados espalhados, muitos deles de grande porte e distantes da sede, o desafio da gestão pública é ainda maior. A Prefeitura de Queimadas dispõe de apenas um carro-pipa próprio e precisa manter outros cinco veículos contratados, o que representa um custo mensal elevado para os cofres municipais. Mesmo com esse esforço, a demanda não é atendida de forma plena, deixando comunidades inteiras em constante espera pelo abastecimento. Os 6 caminhões cadastrados, em media fazem de 200 a 300 viagens/mês.
Diante da gravidade da situação, o prefeito Ricardo Lopes decretou estado de emergência e intensificou o diálogo em busca de apoio. No último sábado, 06, o gestor, acompanhado de vereadores do município, esteve em Ponto Novo, cidade vizinha, onde se encontrou com o governador Jerônimo Rodrigues. Na pauta, as dificuldades enfrentadas pelo município e a necessidade de reforço nas ações de combate à seca.
Impactos na economia local
A economia de Queimadas tem base predominantemente rural, sustentada pela agricultura familiar e pela pecuária. O município conta com um rebanho de bovinos, caprinos e ovinos significativo, mas a escassez de água e a falta de pastagem têm levado muitos produtores a reduzirem suas atividades, vender parte do gado e perder safras inteiras de milho e feijão.
O impacto direto é a diminuição da produção de alimentos e a queda da renda de centenas de famílias que dependem da atividade agropecuária. Além disso, o comércio local, que gira em torno da produção rural, também sente os reflexos da crise.
Consequências sociais
O efeito da estiagem se traduz em dificuldades no dia a dia da população. Muitas famílias percorrem longas distâncias para conseguir água em cisternas comunitárias, enquanto outras dependem exclusivamente da chegada do carro-pipa. O abastecimento irregular compromete hábitos básicos, aumenta os riscos de doenças ligadas ao consumo de água de baixa qualidade e gera forte pressão social sobre a administração municipal.
“A realidade de Queimadas é dura. Povoados grandes, distantes da sede, sofrem com a falta de água. O município está fazendo sua parte, mas não consegue sozinho suportar esse custo e atender a todas as famílias. Choveu em uma parte do município, mas 70% da área continua sem receber chuva, e é exatamente aí que os problemas se agravam. Hoje, a Prefeitura gasta entre R$ 70 mil e R$ 100 mil por mês apenas com carro-pipa. Cada viagem custa em média R$ 255, o que compromete fortemente o orçamento municipal”, desabafa o prefeito.

“Nessas regiões onde não choveu, a situação é dramática, principalmente no distrito de Riacho da Onça, muito distante da sede, e também na comunidade de Umbuzeiro Grande, localizada a cerca de 55 quilômetros da sede de Queimadas. São localidades que enfrentam enorme dificuldade e que dependem quase que exclusivamente da chegada da água transportada em caminhões”, destacou o prefeito Ricardo Lopes em entrevista ao Calila Notícias.
Durante a visita ao governador, o presidente da Câmara de Vereadores, Gordo de Pininho (PSDB), expôs a realidade enfrentada na região de sua principal base eleitoral, a área de Alagoinhas. Segundo ele, apesar das chuvas que caíram recentemente, a seca é ainda mais severa do que se imagina. Para garantir o abastecimento das famílias, um caminhão-pipa chega a percorrer até 20 quilômetros, buscando água na região de Jacurici, no município vizinho de Itiúba.

No distrito Espanta Gado, uma das áreas mais distantes e castigadas pela seca, dois vereadores com posições políticas opostas convergiram na mesma avaliação. O vereador Fábio Professor (PSB), aliado do prefeito, ressaltou que a situação não está ainda pior graças ao esforço e à dedicação da gestão municipal. Ele lembrou que o distrito é atendido por dois rios — o Itapicuru Mirim, cuja água é liberada pela barragem de Pedras Altas, mas que neste momento já está cortado; e o Itapicuru-açu, alimentado pela barragem de Ponto Novo, cuja vazão ainda se mantém razoável. Mesmo assim, comunidades já precisam ser abastecidas por caminhões que percorrem 30 a 35 quilômetros.

Já o vereador Ito da Ambulância (MDB), da oposição, reconheceu que a situação em Espanta Gado não está boa de fato, sobretudo nas comunidades que dependem do Itapicuru Mirim, hoje sem condições de suprir a população. Para ele, o cenário exige urgência e reforço nas ações emergenciais.

O vereador Neguinho do PT, por sua vez, relatou que recentemente fez uma série de visitas a comunidades rurais e percebeu de perto as dificuldades impostas pela falta de água. Ele chamou atenção para o clima naturalmente seco de Queimadas, que agrava ainda mais os efeitos da estiagem, e reforçou que a esperança da população está no apoio efetivo do Governo do Estado e do Governo Federal, já que a Prefeitura sozinha enfrenta uma missão de enorme dificuldade.

Unidade política em defesa de Queimadas
Como pôde ser visto, o encontro em Ponto Novo foi marcado por uma rara demonstração de unidade política: prefeito e vereadores de diferentes partidos, tanto da base quanto da oposição, apresentaram juntos o quadro crítico da seca ao governador. A convergência de vozes reforçou a mensagem de que a situação de Queimadas exige ações emergenciais combinadas com medidas estruturantes, em uma parceria entre Prefeitura, Estado e Governo Federal para socorrer imediatamente a população e planejar soluções duradouras.

A posição do governador
O governador Jerônimo Rodrigues ouviu atentamente os relatos do prefeito e dos vereadores de Queimadas. Ele destacou que o Governo do Estado tem intensificado as ações de combate à seca, com obras estruturantes, reforço em sistemas simplificados de abastecimento e apoio emergencial. Sobre a operação carro-pipa, afirmou que a Bahia conta também com o apoio do Governo Federal, em articulação com a Defesa Civil e o Exército Brasileiro, para ampliar a frota de atendimento e garantir que mais comunidades sejam assistidas.
Jerônimo acrescentou ainda que o Estado está promovendo a distribuição de mudas de palma, milho e outros insumos agrícolas, medida que visa dar suporte imediato à alimentação animal e ao pequeno produtor, diminuindo os impactos na economia rural e assegurando condições mínimas de sustento no campo.